98 º PROGRAMA - A Astrologia humanista; Os triângulos relacionais: Triângulos amorosos, triângulo familiar com rivalidade, competição, traição… Na continuação do programa anterior Os Triangulos edipos



A Astrologia tem a capacidade de descrever sobre as áreas mais complexas e obscuras da vida com uma brilhante clareza sintética e com uma consideração clemente pelos dois lados que existem sempre em qualquer história.
No programa de hoje exploro um dos padrões humanos mais complexos, analisando as relações onde existem três lados.
Os triângulos relacionais são uma dimensão arquetípica da vida humana.
(Arquetípica: Todo e qualquer tipo de padrão ou modelo; exemplo ou paradigma.)


Não podemos escapar-lhes, de uma forma ou doutra e temos também tendência a geri-los mal, quando eles entram nas nossas vidas, o que é compreensível dado que os triângulos normalmente invocam emoções muito dolorosas, independentemente da posição que nele ocupamos.
Podemos ter de enfrentar sentimentos como ciúme, humilhação e traição.
Ou podemos ter de viver sentindo que somos traidores, desonestos e que magoamos alguém.
Podemos sentir todas estas coisas ao mesmo tempo, e podemos ter a convicção de ser uns falhados.
As emoções envolvidas nas relações triangulares são muitas vezes angustiantes e destrutivas para a auto-estima.
 E dado que os triângulos nos obrigam a enfrentar emoções muito difíceis, descobrimo-nos habitualmente a tentar culpar alguém pela existência de um triângulo nas nossas vidas, seja que nos culpemos a nós próprios ou a uma das outras duas pessoas envolvidas.
Mas os triângulos são efectivamente arquétipos – e, se temos dúvidas sobre a sua universalidade, basta-nos ler a literatura dos últimos três mil anos.
Todo e qualquer arquétipo nos oferece um mundo de padrões determinados e de inteligente desenvolvimento interior e existe algo na experiência do triângulo que a torna, por mais desagradável e dolorosa que seja, um dos mais poderosos meios de transformação e crescimento de que dispomos.

Lealdades divididas
Mesmo na família mais feliz e emocionalmente estável podemos sentir tanto um amor profundo como uma intensa rivalidade em relação a um dos progenitores. Podemos encontrar, por exemplo, Vénus na 4.a casa e a Lua na 10.a; é o caso do mapa astral do Príncipe Carlos de Inglaterra, que ofereceu um dos mais famosos triângulos dos tempos modernos.
Com uma tal configuração pode existir uma forte identificação com o rival.
A criança pode acabar na posição do Traidor, assim como do Instrumento de Traição.
O que a leva a sentir-se mal consigo própria e, por isso, algo terá provavelmente de ser reprimido;
para um ego jovem é simplesmente impossível lidar com uma tal ambivalência.
Se se exprimir o planeta Vénus na 4.a, com todas as suas implicações de amor pelo pai, iremos magoar e trair a mãe.
E se a Lua está na 10a, como podemos fazer tal coisa a alguém com quem nos identificamos tanto?
Assim, podemos reprimir Vénus, e mais tarde na vida podemos acabar por entrar num triângulo sem perceber qual o modelo infantil que o alimenta.
Ou podemos reprimir os sentimentos pela mãe.
Podemos transformar-nos nuns "estraga-famílias", como se dizia no tempo em que ainda existiam casamentos. Um "estraga-famílias", a nível psicológico, é uma pessoa que se introduz numa relação estável, não só motivada por um afecto e desejo genuínos pelo objecto de amor, mas também por uma necessidade compulsiva de ocupar o papel do rival com quem secretamente se identifica.
É muito difícil reconhecer um modelo do género em nós próprios.
Se acabamos por cair no papel de Instrumento de Traição, gostaríamos de pensar que nos apaixonámos verdadeiramente por alguém e o facto que esse alguém tenha já uma relação estável, é tido como mero azar; achamos que essa pessoa cometeu um erro e casou com a pessoa errada, ou casou-se obrigado/a porque havia um filho pelo meio ou algo do genero.
Independentemente da explicação que damos a nós próprios, podemos justificar o nosso papel como Instrumento de Traição através da desvalorização da ligação já existente.
Isto pode por vezes revelar-se como profundamente ingénuo e conduz a grandes desilusões e sofrimento, quando se vem a descobrir que o esposo/a "indesejado" significa muito mais para o amado do que alguma vez soubemos reconhecer.
Podemos também descobrir, para o nosso horror, que começamos a comportar-nos exactamente como o rival desprezado, que inicialmente relegámos ao papel de "ele/ela só está com ela/ele por causa dos filhos". Quando existem questões parentais não resolvidas, a pulsão de separar um casal pode ser extremamente forte – especialmente se o rival é também um amigo próximo, o que ajuda a recriar os sentimentos do triângulo familiar original.
Podemos igualmente ver no progenitor coisas não muito encantadoras ou amáveis.
Por exemplo, um homem com Vénus na 10.a casa pode ter também uma quadratura Lua-Plutão ou uma oposição Lua-Saturno, ou Vénus em conjunção a Saturno ou Chiron.
Tais combinações exprimem duas imagens de mãe muito diferentes; uma amada e linda, a outra ameaçadora e dolorosa.
Estes dois atributos têm tendência a manifestar-se, mais tarde na vida, como duas pessoas
 – o Traidor e o Instrumento de Traição.
É a isto que Jung chamou uma "anima dividida" ou, no seu equivalente feminino, um "animus dividido". Jung tinha um grande interesse pelas dinâmicas psicológicas deste modelo porque ele próprio tinha sofrido por causa dele.
Apesar das suas definições serem, de certo modo, rígidas e de necessitarem de uma maior flexibilidade nas interpretações, são úteis para nos ajudarem a entender porque é que precisamos dos triângulos e porque é que os três lados são secretamente variáveis entre si.
É provável que as três pessoas sofram pelas mesmas dinâmicas não resolvidas.
A divisão interior parece ser particularmente forte e levar a triângulos compulsivos quando opostos aparentemente inconciliáveis aparecem no mesmo amado progenitor. Existem progenitores em que os opostos não são terrivelmente opostos, mas também existem outros onde são muito extremos.
Tais progenitores são fascinantes e com frequência exercem um grande carisma sexual porque são misteriosos.
O progenitor é lindo e amado, mas também doloroso, cruel, insensível, devorador ou de qualquer forma inaceitável.
É muito difícil para a psique humana aceitar opostos extremos numa pessoa só, portanto são precisas duas pessoas através das quais viver esses sentimentos ambivalentes.
Uma tornar-se-á Vénus e a outra tornar-se-á Plutão, ou Saturno, ou Chiron, ou Marte, ou Urano.
As imagens parentais que comunicam extremos opostos podem contribuir para uma tendência para triângulos na vida adulta.
Envolvemo-nos com alguém e, com o tempo, essa pessoa começa a assumir a imagem de um dos extremos do progenitor.
Depois de vivermos juntos alguns anos, começamos a dizer a nós próprios e aos nossos amigos, "O meu parceiro é tão possessivo, preciso mesmo de espaço para respirar", e aí está Vénus na 10a ou na 4a casa, em quadrado com Plutão.
Ou dizemos "O meu parceiro é tão restritivo e convencional, tenho de me libertar para poder ser eu próprio/a", e aí está Vénus na 10a com a Lua em oposição a Saturno.
Sentimos que não estamos a saborear aquele tipo de relação linda, erótica e divertida que esperávamos encontrar;
Então transmitimos a culpa ao parceiro, que faz o papel de Vénus.
O rompimento é expresso exteriormente mas, de facto, reflecte duas qualidades opostas que não conseguimos reconciliar na nossa relação com o progenitor.
Claro que estas divisões relacionadas com os pais, ao nível mais profundo, estão relacionadas com as qualidades opostas que ainda não resolvemos em nós mesmos.
Todos os triângulos, incluindo aqueles com origem na familia, relacionam-se, em última análise, com a nossa própria vida psíquica não-vivida.
Se fossemos capazes de reconciliar os opostos dentro de nós próprios, poderíamos então conceder aos nossos pais que fossem contraditórios eles também.
Não há nada de estranho num progenitor com um adorável, encantador, lado venusiano e, ao mesmo tempo, um saturnino lado reservado ou um exigente lado plutoniano.
Os seres humanos são multifacetados e podem amar-nos e ferir-nos;
mas as contradições dos nossos pais podem parecer-nos intoleráveis se eles próprios não conseguem enfrentá-las.
Neste caso não nos darão nenhuma ajuda a aprender a integrar as nossas contradições.
E algumas destas, em termos astrológicos, são simplesmente complexas demais para poderem ser enfrentadas na infância.
Com isto refiro-me a configurações que ligam Vénus ou a Lua a Saturno ou Chiron
– estas requerem uma sabedoria que só o tempo e a experiência podem dar
– ou aos planetas exteriores, que para uma criança, são praticamente impossíveis de integrar a nível pessoal.


Triângulos nas Famílias separadas ou nos divórcios
– oposições entre 4a e 10a
É possível que dentro da família se desenvolvam triângulos através da separação entre os pais.
Muitas vezes isto é descrito no mapa natal através de oposições entre a 4a e a 10a casa.
Tais oposições não indicam inevitavelmente que os pais se separaram mas, normalmente, existem conflitos e separação a nível psicológico se não mesmo a nível físico.
Vivemos a oposição entre os nossos pais e sentimo-nos obrigados a optar por um dos lados.
Induz-nos a tal a nossa própria incapacidade de enfrentar uma situação do género e às vezes um dos progenitores não consegue impedir-se a si mesmo de tentar usar a lealdade da criança como arma contra o outro progenitor.
No fundo nesta situação, como sempre, comporta uma contradição dentro do indivíduo, vivida primeiro através dos progenitores, simbolizados pelos planetas opostos no mapa natal e que no fim terá de ser enfrentada a nível interior pelo próprio indivíduo.
Mas a não-consciência por parte dos pais faz com que o processo seja mais longo e difícil.
Mesmo se não estamos sujeitos a pressões dos pais, é improvável que possamos enfrentar lealdades divididas em tão tenra idade.
E em circunstâncias destas seriam necessários progenitores extremamente sábios e conscientes para poderem estabelecer entre si um acordo de forma a não fazer nenhum tipo de pressões emotivas sobre a criança.
Normalmente, se os pais se sentem tão infelizes que decidem separar-se, não conseguem uma atitude que propicie a cooperação.
As separações libertam em nós emoções primordiais que podem implicar desejos de vingança, especialmente se a separação foi causada por um triângulo.
Muitas vezes a criança acaba por sentir-se como uma bola de futebol num jogo especialmente agressivo.
Um dos progenitores
– principalmente se ele ou ela é o Traído
– pode tentar apropriar-se da criança, declarada ou subtilmente, de forma a magoar o Traidor.
Alguns guiõesde telenovelas parecem ser lidos por muita gente;
por exemplo,
"O teu pai deixou-me porque era um sacana.
Era incapaz de amar, fosse quem fosse!.
Ele não amava nenhum de nós, senão não se tinha ido embora com aquela mulher". 
A mensagem recebida para uma criança do sexo masculino seria :
"Espero que tu não sejas igual a ele quando cresceres";
A mensagem recebida para uma criança do sexo feminino seria
"Espero que não cases com alguém como ele quando cresceres".
Estas mensagens não têm de ser faladas, podem ser comunicadas através de um comportamento de mártir inconsolável, por um dos pais que se sentiu vitima de abandono .
O Traído, quando os pais se separam, normalmente terá um grande poder sobre a psique da criança por causa da pena que consegue provocar-lhe.
As crianças não estão preparadas para se distanciarem da situação e olharem para a separação com objectividade;
A culpa tem de ser de alguém, ou delas próprias ou de um dos pais.
E as crianças também não se atrevem a rejeitar essas mensagens, porque as aterroriza a ideia de fazerem zangar o progenitor que agora é o único que se ocupa delas.
Na nossa sociedade, quando os pais se separam, normalmente a mãe fica com a criança
– mesmo que esta não seja psicologicamente a melhor solução para a criança.
Existem muitos casos em que o pai poderia estar melhor equipado, emocionalmente, para educar a criança, mas os tribunais raramente decidem assim.
A mãe tem de ser decididamente terrível para que lhe tirem a criança.
Se os progenitores não forem legalmente casados, os direitos do pai em termos de acesso à criança podem ser inexistentes.
É lícito interrogarmo-nos se um pai merece realmente que os filhos lhe sejam tirados e virados contra ele só porque traíu a mulher, mas os triângulos têm a capacidade de gerar consequências emocionais muito desagradáveis, que se transmitem através das gerações e alimentam outros triângulos.
As manifestações da cegueira humana são muitas e pais divorciados ou separados
– ou mesmo aqueles que continuam a viver juntos mas emocionalmente distantes
– geralmente pedirão à criança que escolha um ou outro.
O amor pelo outro progenitor tem de ser negado, reprimido, silenciado.
Isto é terrivelmente desumano.
Se uma pessoa nos fere, é-nos difícil suportar que alguém que amamos mostre afecto pela pessoa que nos feriu.
Se existem oposições entre a 4a e a 10a casa no mapa da criança, então a laceração interior da própria criança coincide com a separação dos pais.
Ao longo dos anos de como astróloga, tenho visto muitos, muitos exemplos onde a pessoa teve de negar um enorme amor por um dos progenitores em circunstâncias destas.
A própria pessoa pode acreditar nessa negação como sentimento real.
Quando vejo Vénus, Lua, Neptuno, Sol ou Júpiter numa casa parental, sei que ali existe uma potente ligação com o progenitor, mesmo que a relação com ele, também tenha sido muito difícil.
Se qualquer um destes planetas está na 4a casa, descreve sentimentos fortemente positivos e até idealizados pelo pai.
Mas se houve uma ruptura e o pai se foi embora
– ou, com oposições da 10a casa, mesmo que não se tenha ido embora
– pode demonstrar-se impossível para a pessoa manter-se consciente de tais sentimentos.
A ambivalência pode ser demasiado dolorosa e, a sensação de deslealdade em relação à mãe, grande demais para ser suportável.
Talvez o pai se tenha ido embora por causa de outra relação.
Talvez ele volte a casar e tenha outros filhos.
Então o problema complica-se porque os ciúmes da criança aliam-se aos ciúmes da mãe, o que faz com que seja praticamente impossível para a criança reconhecer a sua ligação emocional com o pai.
A relação é destruída e a criança, que entretanto cresceu, diz
"Oh, não vi muito o meu pai desde o seu divórcio.”
“Tenho muito pouco a ver com ele.”
“Vejo-o ocasionalmente e não temos uma grande relação".
Todos os sentimentos positivos, amorosos, foram empurrados para o inconsciente porque não podemos enfrentar lealdades divididas;
Reprimimo-los porque temos de sobreviver psicologicamente e temos de viver com a mãe.
Se existem planetas na 4a casa que sugerem amor e idealização e os pais se separam, os sentimentos pelo pai que serão reprimidos podem fornecer alimento para triângulos posteriores;
e isto é aplicável a ambos os sexos.
Não será surpreendente que uma mulher com uma familiar deste tipo, com este tipo de configuração no mapa astral, acabe por desempenhar o papel de Instrumento de Traição e se ligue a um homem casado.
Pode igualmente dar consigo a fazer de Traída, casada com alguém que é igual ao pai dela…
Ou pode tornar-se no Traidor por defesa, porque está decidida a não acabar como a sua mãe.
Um homem com este mapa pode inconscientemente acabar por escolher uma mulher como a mãe e depois, para seu grande horror, dar consigo no papel do pai.
O triângulo pode ser inevitável porque quanto mais inconscientes forem os sentimentos em relação ao progenitor amado que falta, certamente mais eles emergirão numa relação adulta posterior.
Estes sentimentos inconscientes também podem cruzar os sexos, não se limitando necessariamente a mulheres que procuram o pai ausente noutros homens, ou a homens que dão consigo próprios na mesma situação do pai deles.
Um homem que perdeu o pai e tem Vénus ou Neptuno ou a Lua na 4a casa, pode procurar as qualidades do pai em mulheres.
Ou, se for homossexual, pode procurá-las noutro homem.
Temos de pensar nestas dinâmicas, não com uma perspectiva de demarcações sexuais rígidas mas como modos de tentar curar uma ferida.
Além disso, reflectem os nossos esforços de entrar em contacto, nas nossas relações adultas, com qualidades arquétipos que vimos primeiro no progenitor e que, afinal, temos de encontrar em nós próprios.
Por carregarmos connosco algo de não resolvido e não curado podemos recriar fielmente o casamento dos nossos pais.
Depois podemos dar connosco no mesmo triângulo, em qualquer um dos três lados, com um ou ambos os sexos.
Estas dinâmicas inconscientes parecem muito óbvias quando começamos a reflectir sobre elas, visto de fora;
a dificuldade está em fazê-lo quando nos encontramos no meio de um triângulo.
É muito fácil, se sou a astrólogo ou a terapeuta imparcial
– se é que pode existir total imparcialidade?
– ou mesmo o amigo com alguns conhecimentos de psicologia.
Podemos ver claramente as raízes familiares de muitos triângulos adultos se somos observadores, mas é extremamente difícil vê-los quando estamos envolvidos neles.
E quanto menos consciência tivermos das nossas dinâmicas familiares, mais este triângulo será emocionalmente compulsivo e mais difícil será vê-lo claramente.
Mesmo que o vejamos, podemos continuar incapazes de resolvê-lo porque temos de viver a situação até ao fim; não se cura nada só com exercícios racionais.
Mas as emoções que o triângulo traz à superfície podem mudar e o resultado final pode variar muito interiormente, se não mesmo exteriormente.
O aspecto triste dos triângulos é que toda a gente perde; mais cedo ou mais tarde, a um nível ou outro, as três pessoas acabam por ser feridas.
Mesmo que o Instrumento de Traição acabe por conseguir quebrar uma relação existente e "ganhar" o objecto de amor por quem lutou, é uma vitória de Pirro - no fim, o Traidor tem sempre de escolher, por isso, mesmo que ganhe algo há sempre outra coisa que perde.
É igualmente uma vitória de Pirro (Rei militar da macedónia) a do Traído que consegue "recuperar" o parceiro errante.
Exercitámos o nosso poder edipiano e regressámos à derrota edipiana original, que sofremos na infância.
Mas o que é que ganhámos e com o que é que temos de viver depois?
O ressentimento parece ser inevitável, qualquer que seja a posição que ocupamos no triângulo.
Se somos o Instrumento de Traição, levamos alguém a fazer uma escolha muito dolorosa e, muitas vezes, ao sofrimento emocional acrescem dificuldades económicas que também trazem ressentimentos.
Mas principalmente, se continuarmos a não ter consciência de nós próprios e destas dinâmicas, não fizemos nada para curar a divisão interior que está por trás do triângulo.
Obtivémos apenas uma solução exterior;
nada mudou realmente.
Inseguranças que criam triângulos
– Saturno e Chiron
Existe outra consequência dos triângulos familiares:
A potencial alienação entre nós e as outras pessoas do nosso sexo.
Uma batalha edipiana não resolvida pode resultar numa falta de confiança na própria sexualidade.
Se houve uma situação de intensa rivalidade e competição com o progenitor do mesmo sexo, inevitavelmente terá efeitos, a nível das nossas amizades e do modo como, mais tarde, interagimos com as pessoas do nosso sexo.
Se uma mulher tem uma mãe que é uma rival e invejosa insuperável, nas mãos de quem sofreu uma dolorosa e humilhante derrota infantil, a sua confiança na própria feminilidade pode ser corroída.
E porque não confia em si própria, não confiará nas outras mulheres.
Todas parecerão ter o poder de lhe "tirar" aqueles que ama.
Esta desconfiança no próprio sexo pode ser muito aguda. Uma mulher pode ter uma amizade fantástica com outra mulher, depois conhece um homem maravilhoso, envolvem-se um com o outro, e o que é ela faz quando chega a hora de apresentá-lo à amiga?
A corrente inconsciente de ansiedade e suspeita pode tornar as coisas muito difíceis, e inconscientemente a mulher pode mesmo preparar-se para uma traição.
Pode inconscientemente escolher como amigas aquelas que personificam o seu conflito não-resolvido com a mãe, por terem elas também conflitos não-resolvidos com as próprias mães.
O mesmo se aplica aos homens;
se um homem viveu uma situação de competição destrutiva com o pai, a questão da rivalidade passar-lhe-á sempre pela cabeça, em qualquer relação onde se envolva mais tarde, porque os outros homens parecer-lhe-ão sempre rivais.
Tem de estar sempre alerta.
Não se trata de possessividade no sentido comum do termo; as suas raízes são muito diferentes.
Aspectos de Vénus com Saturno ou Chiron podem contribuir para esta dinâmica, não porque são intrinsecamente edipianos mas porque reflectem inseguranças enraízadas no triângulo familiar.
Aspectos de Marte com Saturno e Chiron podem também indicar profundas inseguranças sexuais que são intensificadas pelos triângulos familiares e levam a sentimentos de derrota.
Esta série de aspectos pode induzir a uma repetição da derrota mais tarde, ou a uma tentativa de curar a ferida provando a própria potência sexual através dos triângulos.
Não existe um padrão astrológico único que descreva uma propensão para os triângulos mas, antes, muitas diferentes combinações que podem descrever diversas imagens de progenitores e de respostas a estes, e diversos modos de reagir à natural e inevitável fase edipiana da infância.
Vénus-Saturno e Vénus-Chiron não "fazem" uma pessoa cair em triângulos, mas descrevem uma profunda e inata consciência dos limites humanos que, na infância, quando não existe uma compreensão real do que isto pode oferecer de positivo, pode levar a criança a sentir-se inadequada e perturbada.
A perda ou alienação de um progenitor amado será então atribuída a uma culpa própria e, mais tarde na vida, sente-se que não se pode "segurar" um parceiro porque haverá sempre um ou uma rival que no-lo há-de roubar.
As experiências edipianas explodem com frequência na meia-idade porque os planetas numa posição-chave por essa altura (Saturno, Neptuno e Urano, como j+a referi em programas anteriores) podem desencadear configurações que nos metem em contacto com questões da infância.
No grupo de trânsitos da meia-idade há muita vida não-vivida que pede para se exprimir e triângulos familiares não-resolvidos que conseguiram permanecer ocultos até então podem finalmente emergir por causa da vida psíquica não-vivida que carregam consigo.
Mas depende de quanto é forte o conflito;
Pode muito bem  ocorrer muito antes.
Há pessoas que experimentam triângulos desde os seus primeiros relacionamentos.
Nem todos os triângulos têm raìzes familiares e estas também podem envolver algo de mais profundo.
Bem nos podemos perguntar o que existirá de mais profundo do que as dinâmicas edipianas mas, como terá dito uma vez Jung, até o pénis é um símbolo fálico.
Se existe um padrão familiar não-resolvido, como as questões venusianas de que tenho falado, há fortes probabilidades de que surja na nossa vida exterior sob influência das circunstâncias propícias.
Essa, para algumas pessoas, pode ser a única forma de conseguir algum tipo de cura ou solução as suas magoas.
Mas por trás da questão parental está a questão do arquétipo:
Porque é que procuramos o amor desse progenitor específico e o que é que esse progenitor representa para a nossa alma?
Isto está invariavelmente ligado com o que precisa de ser desenvolvido em nós
– o nosso próprio destino.
Na meia-idade, se há pedaços importantes de nós que permaneceram subdesenvolvidos, estes emergirão com violência, especialmente com a oposição de Urano à sua posição natal ( Úrano oposição a Úrano) .
E, muitas vezes, o primeiro lugar onde encontramos esses pedaços bloqueados de nós próprios é noutra pessoa qualquer.
É o modo mais característico que tem a psique de bater à porta e requerer integração.
Esta necessidade de nos tornarmos em algo mais do que já somos pode iniciar-se com uma atracção inesperada.
Pedaços não-vividos de nós próprios podem aparecer-nos num rival.
Surpreendentemente, a nível psicológico o rival pode ser mais importante para nós do que a pessoa pela qual lutamos.
Mas se não vivemos nenhum tipo de triângulo antes, o aparecimento de um na meia-idade pode não implicar necessariamente um problema familiar não-resolvido.
E se implica, então o problema tem de ser visto num contexto mais alargado.
Triângulos que implicam vida não-vivida 
Agora, o que estará realmente por trás das dinâmicas dos triângulos?
 - por trás dos modelos parentais e das defesas e jogos de poder e de todas as outras razões aparentemente "causais" para que os triângulos entrem nas nossas vidas.
Creio que existe sempre um elemento de vida não-vivida em todos os triângulos e, por vários motivos, às vezes parecemos ser incapazes de o descobrir, a não ser através do stress emocional extremo criado pelos triângulos.
A traição é uma experiência-tipo que constitui o nosso principal instrumento de maturação.
Isto não significa que temos de nos tornar todos em cínicos amargos;
Mas é importante reconhecer de que modo as nossas fantasias sobre como a vida e o amor deveriam ser nos impedem de crescer e de nos tornarmos plenamente membros da família humana.
A traição é o meio através do qual estas fantasias são individualizadas e reconhecidas.
Tentamos fechar-nos, a nós e a outras pessoas, no nosso mundo-de-fantasia que é suposto compensar-nos pelos sofrimentos da infância.
Dado que todas as infâncias comportam sofrimento, as suposições ingénuas que carregamos connosco são também arquétipos e reflectem um mundo-criança alternativo, que se parece com o Paraíso na sua inocência e estado de fusão com o progenitor divino.
A serpente no Jardim do Éden é, como tal, a imagem deste papel do arquétipo da Traição, que é inerente ao estado de inocência e que mais cedo ou mais tarde se ergue para destruir a nossa fusão.
Não existe uma fórmula para lidar com a dor da Traição.
Mas uma perspectiva arquetípica pode ajudar-nos a ver as coisas de outra maneira, embora a dor não possa ser explicada ou afastada.
Não há nenhum remédio para este tipo de dor.
Mas existe uma diferença entre a dor cega e a dor que é acompanhada pela compreensão, que ser obtido pelo seu mapa astral;
A segunda tem um efeito transformador.
Quando não se tem consciência de nós próprios, os triângulos tendem a repetir-se nas nossas vidas
– personagens diferentes,
- o mesmo guião, a mesma telenovela!
Alguns triângulos são verdadeiramente transformadores; destroem um velho modelo e a nova relação é genuinamente muito mais feliz e gratificante, ou o triângulo serve o propósito de libertar energia e potencialidades interiores, e seja que a velha relação seja restabelecida ou que se acabe por ficar sem relação nenhuma,
tudo mudou!
Mas nós ainda somos os mesmos, por quanto possamos mudar a nossa vida exterior, e se existe uma questão interior não enfrentada, os mesmos padrões começarão a emergir nas novas relações.
A compatibilidade pode ser maior com uma outra pessoa, mas temos sempre de lidar com a nossa própria psique.
Um triângulo pode ser como um grande trígono num mapa astral:
A energia circula à sua volta, regressa a si mesma e não alimenta mais nada na vida da pessoa.
Dentro dos triângulos, as três pessoas têm tendência a projectar umas nas outras elementos de si próprias.
O triângulo mantém essas projecções no lugar e pode existir uma enorme resistência a mudanças;
Poderíamos mesmo dizer que o triângulo se forma porque existe resistência a mudanças e o que quer que seja que procura uma expressão dentro de nós é experimentado através de projecções ou espelhamentos.
Quando este género de triângulo se quebra, as projecções regressam a casa outra vez.
É libertada energia psíquica, seja através da morte ou da renúncia voluntária a alguém.
O momento em que isto acontece não é casual.
Da parte de um, ou dois, ou mesmo dos três componentes do triângulo, há questões inconscientes que chegaram finalmente a um ponto em que podem ser integradas, mesmo que a única expressão disso seja “deixar andar”.
As projecções começam a tornar-se conscientes no momento em que estamos prontos para o fazer.
Não acredito que se chegue a um verdadeiro perdão de nenhum outro modo.
É uma espécie de dom; não pode criar-se com um acto de vontade.
É muito triste ouvir o Traído dizer "Perdôo-te" não porque lhe vem do coração, mas como forma de conseguir de volta o parceiro perdido.
Por detrás desta frase, pode não existir perdão nenhum (embora isto possa acontecer a nível não totalmente consciente), e assim a punição continuará eternamente.
O perdão só pode chegar com o reconhecimento da própria cumplicidade com o triângulo, qualquer que seja o nosso papel nele, e com o retirar das nossas projecções.
Antes disso, o perdão não é verdadeiramente possível. Parece emergir apenas a partir de algo que foi genuinamente integrado dentro de nós.
O processo inteiro é transformador.
Não podemos fabricar perdão se fomos traídos
- nem fabricá-lo para nós próprios, se somos o Traidor.
A única coisa que podemos fazer é trabalhar para integrar aquilo que pertence à nossa própria alma.
O progenitor saturnino que nos rejeita e depois reaparece num triângulo disfarçado de parceiro frio e que nos rejeita também, pode estar ligado à nossa necessidade de adquirir limites definidos na nossa vida.
Se virmos esta experiência saturnina fundamental de uma perspectiva mais distante, o que é, afinal, a rejeição senão alguém que estabelece limites que para nós são insuportáveis?
Pode ser a nossa falta de limites definidos a atrair-nos para um triângulo onde somos o Traído, rejeitado por um parceiro saturnino que diz "Não posso suportar esta claustrofobia emocional; quero separar-me".
Ou podemos ser o Traidor, em fuga de um parceiro cujas necessidades emocionais nos parecem sufocantes mas que secretamente reflecte a nossa incapacidade de lidar com a solidão.
As duras e dolorosas lições que aprendemos com este tipo de experiência são lições sobre o que existe de subdesenvolvido dentro de nós.
Podemos ter de descobrir as nossas pulsões primitivas se Plutão está na nossa 10a ou 4a casa.
Mas inicialmente podemos não aceitá-las como uma coisa nossa, e dizer
"A minha mãe era terrivelmente manipuladora e dominadora" ou
 "O meu pai era tão dominador, controlava tudo e todos." 
Porque é que as pessoas se tornam manipuladoras e dominadoras?
Quando exprimimos qualidades plutonianas numa relação, não o fazemos por divertimento, mas porque a relação é equiparada com a sobrevivência, e temos uma necessidade desesperante de garantir que a pessoa amada permaneça ao nosso lado.
Fazemos entrar em acção Plutão quando nos sentimos ameaçados.
As pessoas tornam-se manipuladoras porque se sentem aterrorizadas com a ideia de perder o objecto do seu amor.
O objecto de amor representa a própria sobrevivência e a manipulação parece-lhes ser a única forma possível de garantir a continuidade da relação.
Todos nós somos capazes de o fazer, se colocados num certo nível de envolvimento e de ameaça.
Se não reconhecermos como nossos esses atributos plutonianos e os mantivermos projectados no progenitor, eles podem acabar por dar vida a um triângulo;
Então teremos de reconhecer o quanto nós próprios podemos ser possessivos.
Ou podemos arranjar um parceiro profundamente possessivo e ciumento.
Podemos chegar ao ponto de dizer
"Ah, sim, escolhi alguém exactamente como a minha mãe/o meu pai."
Este é um importante passo introspectivo, mas é só o início.
Esta qualidade possessiva do progenitor é descrita por Plutão na nossa 10a ou 4a casa.
Resta-nos sempre descobrir essa qualidade dentro de nós próprios.
Muitas vezes só descobrimos que temos um Plutão através de uma experiência de traição;
Ele é só um vazio no mapa até que um triângulo o desenterra e, então, inesperadamente, damos com o nosso Plutão pela primeira vez.
Descobrimos que sentimos apaixonados, que precisamos de intensidade, que o desespero nos pode tornar manipuladores e que o controlo pode às vezes parecer a única forma de sobreviver.
Este processo de auto-descoberta pode ser uma experiência assustadora e humilhante, mas permite-nos tornarmo-nos plenamente naquilo que somos.
A integração psíquica é a teleologia de todos os triângulos.
Mesmo quando os planetas exteriores estão envolvidos em triângulos parentais, a qualidade no progenitor à qual somos tão ligados è, na realidade, algo que pertence à nossa alma.
Este "algo" pode implicar alargarmo-nos para além dos nossos limites pessoais e deixarmos que um maior ou mais profundo nível de consciência entre nas nossas vidas, mas está indubitavelmente ligado ao nosso caminho individual na vida.
Quando encontramos símbolos astrológicos com os quais entramos em contacto, primeiro através dos pais e, mais tarde, através de um triângulo onde repetimos essa mesma experiência, há algo em nós que tem de ser expresso através da experiência empírica (na pratica) e pode continuar a manifestar-se até encontrar um modo de o vivermos.
Os planetas que representam significadores parentais no mapa não descrevem apenas modelos de progenitores; descrevem dimensões não-vividas de nós próprios, principalmente quando não condizem com o resto do mapa.
Mesmo que os progenitores personifiquem o planeta de forma criativa, é sempre o nosso planeta, e pertence ao nosso próprio destino.
Um planeta na 4a ou na 10a casa, ou em aspecto maior ao Sol ou à Lua, pode não ser evidentemente posto em acção pelo progenitor, mas fará parte daquilo que experimentamos através dele.
Se o progenitor não viveu criativamente o padrão arquétipo simbolizado pelo planeta, ser-nos-á mais difícil entender com que energia lidamos
- e, como tal, podemos não nos aperceber exactamente do que vivemos através do triângulo que aparecerá mais cedo ou mais tarde nas nossas vidas.
Não é só um modelo parental não resolvido, apesar de este poder ser um importante elemento a desenvolver; é, em última análise, o nosso próprio planeta e, como tal, é algo que pertence à nossa alma.
Faz parte da nossa herança psicológica, mas temos de lhe dar uma forma.
Mesmo os triângulos declaradamente edipianos estão ligados à nossa vida interior, porque aquilo que amamos ou odiamos no progenitor é algo que nos pertence.
Mas temos de encontrar um modo próprio de o viver.